Tivemos a oportunidade de bater um papo com a Gerente de Planejamento e Custos da Conx Construtora, a engenheira Alessandra Silva.
Ela nos contou sobre sua experiência com digitalização de processos de obra, incluindo a maneira como entende a importância de medir e comprovar o aumento de produtividade e a contribuição da tecnologia para o ganho de competitividade de construtoras.
Confira como foi a conversa. E lembre-se que ela é uma das especialistas já confirmadas para apresentar o case de digitalização da Conx na Imersão em Canteiros Digitais, da Grua Insights em parceria com a Terracotta Ventures.
Conte um pouco da sua experiência com digitalização de canteiros.
Atuo há mais de 25 anos no setor da construção civil e passei por várias experiências de digitalização. No inicio da minha carreira o computador era uma novidade nos canteiros de obra. Implantei planilhas de medição e de levantamentos que eram elaborados em formulários impressos em gráficas e entregues na obra. Ao longo desses anos muitos projetos aconteceram e os documentos em papel foram diminuindo a cada dia. Cada época teve sua importância. A construção de edifícios é um segmento onde geramos muitos dados e não utilizamos essa informação na nossa tomada de decisão. Hoje atuo num projeto que integrará várias soluções com o intuito de dar velocidade na análise de dados proporcionando ao engenheiro mais informações para a tomada de decisão dentro do canteiro.
Antes de chegar à tecnologia, como você avaliou o que deveria fazer? Ou seja, como identificou gargalos e oportunidades de melhoria?
A tecnologia precisa de maturidade da empresa para a implementação de novas ferramentas. Muitas empresas ainda não estão num estágio de implantar ferramentas complexas.
Hoje nossos canteiros utilizam muitas ferramentas, mas, antes de aplicarmos, avaliamos a maturidade das equipes e também a infraestrutura necessária para a aplicação além de fazermos um trabalho com todos os colaboradores envolvidos para entender se teremos condições para a implantação de novas tecnologias.
Como você vende esses projetos à diretoria?
O setor da construção ainda não dispõe de verbas significativas para inovação. Isso porque ainda temos muitas incertezas na execução de um projeto. Temos que levar em consideração que o tempo de construção de um prédio, da compra do terreno até a entrega das chaves, dura em média cinco anos, então nossas margens são bem apertadas.
Mas todas as soluções que implantamos foram baseadas em custos e no ganho para as equipes além de pensarmos na sustentabilidade.
Outro fator importante é mostrar o resultado durante a utilização da ferramenta implantada nos canteiros tanto financeiramente, mostrando as economias, quanto na agilidade para os profissionais. Essa também é uma maneira de ganhar autoridade na implantação de novas tecnologias.
Nesse processo, quais os principais desafios que você enfrentou?
No começo, um grande desafio era convencer os executivos que os profissionais do canteiro utilizariam as soluções. Havia uma crença no mercado que limitava os encarregados e mestres de obra, como se eles não utilizassem de maneira nenhuma as soluções.
Temos um desafio em relação à gestão. Vejo muitas vezes donos de empresas e a equipe de produção engajados na implantação de novas ferramentas, mas gestores das equipes ainda preferem permanecer na zona de conforto e manter o status quo.
E, por último, temos o limitador financeiro pois para alcançarmos um nível de excelência na informação precisa de maquinas robustas e treinamento das equipes. Isso fica muito claro quando falamos em BIM, uma tecnologia que vem para transformar o setor porém ainda é muito cara para estar em todos os escritórios de projetos e construtoras.
Quais indicadores te fizeram ver que estava no caminho certo?
Quando falamos em indicadores precisamos pensar com a mente do dono da empresa. Ver a redução de custos é o principal indicador no nosso mercado. Em relação à digitalização dos projetos, tivemos canteiros com economia de mais de 30% além da questão de sustentabilidade em relação a quantidade infinita que tínhamos dentro do canteiro.
Outro indicador importante foi o tempo na tomada de decisão. Hoje todos na empresa conseguem consultar em tempo real como está a evolução das obras evitando as trocas de email e consulta a profissionais que podem ser evitadas com alguns cliques na tela do computador.
Ao longo do processo, você encontrou algum “apoio inesperado”, como um mestre de obras que contribuiu para otimizar a implantação da solução?
Esse é o ponto mais prazeroso de implantar nossas tecnologias. Quando você percebe que a ferramenta implantada pode ser utilizada por todos os colaboradores isso mostra que estamos no caminho certo. Na Conx temos muita sinergia entre as equipes e o engajamento da equipe de campo é fundamental no sucesso dos nossos processos. Atuo na Conx há 18 anos e nesse período sempre busquei o apoio de nosso time de mestres e encarregados para entender se fazia sentido as ferramentas no dia a dia da obra. Sempre me surpreendo com o engajamento de nosso time por acreditar no trabalho.
Quais os principais erros que você vê as construtoras cometendo ao pensar em digitalização? Qual seria sua dica para ajudá-las?
Vejo que temos alguns problemas que os gestores das áreas precisam ter atenção:
- Sair da zona de conforto: como gestores, temos que trabalhar como se a área pela qual somos responsáveis fosse uma empresa e identificarmos dia após dia o que há de novidade e que vai agregar valor ao produto final.
- Maturidade das equipes: muitas soluções não dão certo pois a equipe não está madura para utiliza-la e geralmente fica uma imagem que a solução que não é eficaz. Entender em qual momento está sua equipe é fundamental para garantir o sucesso das implantações de novas tecnologias.
- Sinergia entre os colaboradores: outro erro que vejo é a alta gestão decidir por implantar uma nova tecnologia sem criar uma sinergia entre os colaboradores. Isso cria um desconforto nos profissionais e ainda acarreta na falta de identidade com o projeto. Vivemos num mundo conectado e precisamos investir cada vez mais em pessoas para extrairmos ao máximo tudo o que a tecnologia pode nos auxiliar.
Tem algum case nacional ou internacional de referência ou inspiração?
No começo do ano participei da imersão do IconHub, do SindusCon-SP, onde visitamos várias empresas. Entre elas, a Vetor AG nos apresentou seus desafios para desenvolver inovação para o setor da construção. Foi muito interessante ver que uma empresa como a Andrade Gutierrez tenta se reinventar para estar entre as maiores de seu segmento.
Em termos de digitalização, como você imagina os canteiros de obra em três a cinco anos?
Eu trabalho todos os dias para termos canteiros cada vez mais digitais. Já é uma realidade em nossos canteiros fazermos nossas reuniões de projetos, de cronograma e de análise de custos de forma digital. A consulta dos projetos pelos profissionais do campo também é feita de forma digital através de celulares e tablets.
Nos próximos anos, vejo empresas trabalhando com AI (inteligência artificial) e vejo um futuro promissor com base nessa tecnologia que nos próximos anos será uma realidade nas obras.
Alessandra Silva é instrutora confirmada para a Imersão em Canteiros Digitais
Nos próximos dias 2 e 3 de dezembro, a Grua Insights irá promover a primeira Imersão em Canteiros Digitais, que tem como proposta indicar caminhos e qualificar profissionais para iniciar ou dar o próximo passo na digitalização de seus processos de obra.
Além de instrutora, que vai apresentar o case de implementação de tecnologia nos canteiros de obra da Conx, a Alessandra receberá os participantes no escritório da construtora. Na ocasião, ela mostrará na prática como se dá a integração tecnológica entre equipes e quais são os ganhos observados no dia a dia da operação.
Para saber mais sobre a Imersão em Canteiros Digitais e se inscrever, acesse o site https://gruainsights.com/conteudos/imersao-em-canteiros-digitais/