Apagão da mão de obra e a crise de imagem na construção

Nem tem tanto tempo que o ano de 2024 começou e já vimos que o apagão da mão de obra na construção tira a paz dos executivos do setor!

Em 2014, vimos um recuo extremamente forte nas vendas de imóveis. Como resultado, tivemos mais de meio milhão de demissões e as ações de empresas de construção derreteram na Bolsa.

O setor desmoronou 30% até 2018. O esboço de recuperação de 2019 veio acompanhado da Covid-19, que, de início, fechou canteiros e estandes de venda. Depois, os estímulos governamentais para a retomada funcionaram, mas alavancaram os preços dos materiais.

De lá até 2023, a construção puxou o PIB pra cima e agora, em meados de 2024, o vento favorável nos coloca num paradoxo em que o crescimento expõe ainda mais a escassez de trabalhadores.

Pesquisas indicam que 70% das construtoras estão sofrendo com o problema. As outras 30% talvez estivessem ocupadas demais procurando trabalhadores e não puderam responder à pesquisa. O problema é generalizado e poucas são as empresas de do construção que não tem sofrido com a escassez de mão de obra.

Muito além do apagão da mão de obra

Em certa medida, não deixa de ser uma crise de imagem. Ao se posicionar como principal empregador do Brasil por 50 anos, o setor da construção não atentou para a qualidade dos empregos gerados. Afinal, a quantidade de pessoas empregadas sempre foi mais importante que qualidade desses empregos, incluindo o nível de qualificação dos operários de canteiro. 

Agora, a construção civil convive com um dilema que impacta diretamente sua capacidade de atrair e reter talentos.

Como condenar jovens que não querem trabalhar em obra porque associam canteiros a locais de trabalho extremamente pesado e perigoso?

O problema da informalidade na construção civil

Se, por um lado, a informalização dos benefícios tem se mostrado um paliativo para empresas com moral mais flexível, por outro é o típico caso do remédio que mata o paciente.

Afinal, dentre os motivos apontados para o exôdo de novos profissionais nos canteiros está a situação precária para o trabalho. Informal por informal, soa melhor fazer Uber 12 horas por dia do que subir em andaime para esculpir edifícios.

Resta saber se as iniciativas setoriais que têm surgido terão tempo de reverter a situação, pois há a ameaça de uma nova variável.

Risco que vem de fora

Com tanta ou mais escassez de mão de obra, países desenvolvidos têm começado a olhar com mais carinho para trabalhadores estrangeiros. Nos Estados Unidos, que tem 600 mil vagas abertas na construção e onde 20% dos trabalhadores de obra são estrangeiros, a estimativa é de que a flexibilização dos vistos de trabalho para esses profissionais possa gerar US$ 1,7 trilhão na próxima década.

Mesmo que o contexto geral das condições de trabalho por lá não seja assim tão diferente do brasileiro, tenho certeza que uma proposta de trabalho em dólar parece bastante atraente. Principalmente para engenheiros, cuja escassez será tema de outro post.

Conclusão

Devido a uma conjunção de fatores, o setor da construção civil se configurou de uma maneira tal que, hoje em dia, faz com que a atratividade de pessoas para trabalhar seja muito prejudicada.

Vai ser necessário rever estruturas e relações de trabalho já há muito consolidades para começar a reorganizar a maneira como contratamos e gerimos operários de obra.

O caminho certamente conta com desafios que demandam capacidade de articulação das entidades representativas. Afinal, as empresa, isoladamente, não têm como exigir alterações importantes nas esferas políticas. É o caso, por exemplo, do posicionamento da construção como o principal responsável pela geração de empregos no Brasil. Embora seja um orgulho para o setor responder pela renda de grande parte das famílias brasileiras, a maneira como essa realidade se mostra acaba sendo prejudicial, em certa medida, até mesmo para os próprios trabalhadores.

Temos uma tarefa árdua pela frente, mas enfrentá-la é imprescindível para mudarmos em definitivo a realidade da construção no Brasil.

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