A produtividade é um grande desafio – e também um problema – para o setor de construção civil. O estudo Produtividade do trabalho no Brasil: uma análise dos resultados setoriais desde 1995, produzido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE) revela que há um desempenho negativo da produtividade na construção civil brasileira entre 1995 e 2022.
Nesse cenário, a construção civil é uma das grandes responsáveis pela queda da produtividade agregada da indústria. No período analisado, a produtividade da construção civil caiu 0,62% ao ano. O critério de produtividade da pesquisa corresponde ao valor agregado por hora trabalhada.
Usando o critério de valor agregado por pessoal ocupado, o cenário é ainda pior. A perda de produtividade na construção civil chega a 1% ao ano. Além disso, a produtividade das empresas da construção nos últimos 14 anos caiu em todas as áreas analisadas, desde a construção de edifícios até as obras de acabamento.
Neste artigo, vamos entender mais sobre os desafios, os problemas e os caminhos para melhorar a produtividade na construção civil. Boa leitura!
Problemas que afetam a produtividade na construção civil
É possível identificar uma série de fatores que prejudicam os índices de produtividade na construção civil. Esses são alguns dos elementos que demandam a atenção do setor:
Falta de planejamento
A produtividade na construção (e a falta dela, no caso) tem início já no planejamento. Afinal, decisões ruins nessa etapa inicial afetam negativamente todo o empreendimento dali para frente.
Um planejamento mal feito adiciona etapas desnecessárias ao projeto e também gera necessidade de retrabalho. Nesse sentido, um erro comum é fazer um planejamento inicial que não se adequa aos canteiros e, portanto, não pode ser aplicado na obra em si. Não adianta planejar sem fundamentação e aderência ao que acontece de fato no canteiro.
Além disso, outro equívoco frequente é tomar decisões com base somente na experiência empírica dos profissionais. Já existem diversas tecnologias, métodos e ferramentas que proporcionam dados adequados para subsidiar as escolhas durante a fase de planejamento com maior efetividade prática. Até mesmo porque permitem acomodar alterações ao longo da execução.
Escassez de mão de obra e capacitação
Um problema tem se tornado cada vez mais comum às empresas do ramo de construção civil: não só faltam profissionais quantitativamente, mas também falta capacitação dos trabalhadores disponíveis.
Dados do Sistema do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que o número de pessoas trabalhando na área caiu de 3,2 milhões em 2010 para 2,6 milhões em 2024 – uma perda de 19% da força de trabalho durante o período.
Um fenômeno já identificado é o envelhecimento da mão de obra na construção civil. Sem pessoas jovens ingressando no setor, é natural que não haja reposição e, consequentemente, aumento da faixa etária dos trabalhadores.
Diante disso, muitas empresas estão começando a verticalizar a operação, mantendo equipes especializadas próprias. Para que essa dinâmica funcione, no entanto, é necessário treinar e dar formação aos próprios profissionais que estão em falta no mercado, sobretudo em funções que exigem uma especialização maior.
Industrialização e ineficiência tributária
A construção civil brasileira está um tanto atrasada quando o assunto é industrialização. Levar estruturas industrializadas em vez de construir tudo no canteiro, aliás, é um dos caminhos para lidar com a escassez de mão de obra.
O setor ainda carece de investimento em soluções industrializadas e modulares capazes de acelerar o andamento das obras e diminuir os riscos no canteiro. Além disso, a industrialização contribui para a padronização, o que reduz inconsistências, desperdícios de materiais e também retrabalhos. Segundo uma sondagem do IBRE, apenas 34,6% das empresas fazem uso de sistemas pré-fabricados em suas obras.
Acontece que um dos grandes vilões contra a industrialização da construção é a legislação tributária. Produtos industrializados pagam mais impostos e, com isso, muitas construtoras optam por fazer o máximo possível diretamente no canteiro de obras, a fim de reduzir custos, em vez de tomar as melhores decisões com base no que é melhor para o empreendimento.
Com a reforma tributária, existe a expectativa de que as decisões fiquem mais racionais e, com isso, escolher entre usar estruturas industrializadas ou construir diretamente no canteiro deixe de levar os impostos em consideração.
Falta de gestão e controle de qualidade
A gestão de obra ainda pode ser um problema recorrente no setor, causando atraso nas obras, falhas no controle de estoque, litígios trabalhistas, relação ruim com fornecedores e fluxo de caixa mal gerido, dentre outras situações.
Na maioria das vezes, isso se dá graças à ausência de processos bem definidos e ferramentas de gestão adequadas para gerir o dia a dia da obra com suas demandas reais e específicas.
Além disso, quando as empresas não realizam uma gestão de qualidade ativa, é mais difícil manter um alto nível de qualidade e eficiência nos processos, afetando diretamente a produtividade na construção civil. Dessa forma, os processos ficam mais lentos e menos precisos.
Se o controle de qualidade é falho, é mais provável que problemas surjam e sejam notados só depois de um tempo. Isso demanda retrabalho e impõe novos custos para a execução do projeto.
Conclusão: caminhos para melhorar a produtividade na construção civil
A preocupação com a produtividade na construção civil não existe só no Brasil e instiga discussões no mundo todo, mas o cenário brasileiro tem uma série de peculiaridades culturais, mercadológicas e tributárias por trás, o que impõe grandes desafios para solucionar os problemas.
Não existe uma receita pronta para lidar com essas questões. Entretanto, é possível vislumbrar caminhos para aumentar a produtividade da construção civil, a eficiência dos processos construtivos e, consequentemente, fortalecer os negócios do setor. Alguns deles são, dentre outros:
- Capacitar a mão de obra
- Tornar a construção civil mais atrativa para jovens
- Adotar práticas modernas de gestão de obra
- Modernizar a operação e utilizar novas tecnologias, como o BIM
- Avançar na industrialização do setor
- Apostar em processos lean, evitando desperdícios
- Reduzir a complexidade tributária
O caminho para alcançar melhores níveis de produtividade na construção civil é longo e, justamente por isso, é preciso começar a trilhá-lo desde já.
O estudo Panorama da Mão de Obra na Construção Brasileira, da Grua Insights, retratou a situação atual da mão de obra, que tem relação direta com a produtividade em canteiro de obras. O material contém dados que ajudam a orientar ações de planejamento, engenharia e gestão de pessoas e que, dessa maneira, contribuem para a melhoria da produtividade na construção civil.