Sabemos que o problema da falta de trabalhadores em obra tem afetado muitas construtoras por todo o Brasil.
Há alguns estudos, inclusive, que indicam que mais de 70% das empresas de construção tem sofrido para encontrar trabalhadores em quantidade suficiente e com a qualificação necessária.
Como efeito desse problema, os prazos de construção correm o risco de serem afetados. Além disso, o custo da mão de obra também aumenta.
Por outro lado, a qualidade de vida dos operários também mudou muito nos últimos anos. Atualmente, as pessoas que têm perfil para trabalhar em canteiros de obras estão sendo atraídas para outras atividades econômicas.
Muitas vezes são alternativas de trabalho que pagam menos do que a construção civil. No entanto, o tipo de trabalho autônomo que plataformas digitais oferecem – como Uber e iFood – proporciona flexibilidade ao indivíduo.
Causas da escassez de operários na construção civil
Neste texto vamos olhar um pouco mais detalhadamente para os aspectos que impactam a vida do trabalhador da construção civil. Vamos começar com uma frase falada por um engenheiro com mais de quarenta anos de experiência em execução de obras dos mais variados tipos.
- “Condenamos os caras a serem medíocres a vida toda”
Foi essa a frase que ressoou no ar durante uma conversa sobre a situação geral da força de trabalho da construção no Brasil. Essa foi a resposta dele à pergunta inevitável: por que está tão difícil encontrar jovens para trabalhar em obras?
Para entender melhor essa afirmação, precisamos considerar todos os elementos que fazem parte do contexto que ele procurava desenhar naquele momento. E o cenário é formado por itens como:
- Uma carga de trabalho extenuante;
- Deslocamentos desumanos entre casa e canteiro;
- Salários insuficientes para permitir uma qualificação adequada.
Juntos, esses fatores resumem a rotina diária do operário de qualquer obra a uma incessante jornada. Uma repetição eterna da atividade de empilhar blocos por 8, 10 horas seguida por horas a fio pendurado em conduções precárias. E o pior: sem aprender nada que possa abrir portas para um futuro diferente que o permita escapar dessa realidade.
A incerteza quanto ao futuro profissional é outra constante na vida desses operários de obra e que contribui para a escassez de mão de obra que vivemos atualmente.
Afinal, em dois ou três anos, mais ou menos, a obra termina. Isso significa que o trabalhador será demitido. Isso porque a construtora ou empreiteira não consegue manter todos registrados até conseguir uma nova obra.
As crises econômicas e a falta de operários
Há, ainda, um outro risco, muito inerente à própria atividade da construção civil: a possibilidade, nada desprezível, de o Brasil mergulhar em uma crise econômica, que inevitavelmente vai resultar em demissões em massa. E a construção é sempre um dos setores que é afetado primeiro e de maneira mais severa quanto ao desemprego.
Na prática, isso faz com o que o trabalhador se veja obrigado a procurar outros meios de ganhar dinheiro até que uma nova oportunidade na construção surja. E isso pode demorar desde poucas semanas até alguns anos.
E não são apenas os trabalhadores que sofrem com as oscilações econômicas do país. Evidentemente, não saber como será o desempenho da economia do Brasil é algo que dificulta a projeção de quantas futuras obras as construtoras terão. Logo, contribuindo diretamente para a escassez de mão de obra, isso significa que não há continuidade para desenvolver os trabalhadores para que eles sejam promovidos e ganhem melhores salários.
Como a gente pode ver, o funil do crescimento profissional, que já é bastante estreito em qualquer carreira, torna-se ainda mais desafiador para o operário da construção.
Trabalhador da construção civil empreendendor: os empreiteiros
Há alguns trabalhadores que não se conformam com a realidade a que estão submetidos a maior parte dos operários de construção civil.
E eles são muito bem vindos para o setor. Se trata dos empreendedores que decidem por iniciar uma empreiteira. Caso seja feito de uma maneira planejada e bem estruturada, há uma boa demanda para esse tipo de iniciativa por parte das construtoras.
No entanto, na prática, essas empresas acabam atuando de forma muito amadora e estão sujeitas a uma série de problemas bastante sérios. No fim, acabam contribuindo para que a escassez de mão de obra se acentue ainda mais. Isso porque tornam o ambiente geral de contratação ainda mais inseguro para os trabalhadores.
Para ter competitividade no mercado, as empreiteiras prometem uma produtividade muito maior do que a que a construtora conseguiria caso optasse por contratar mão de obra própria. Além disso, as empreiteiras também afirmam ser capazes de fazer um serviço com um nível de qualidade muito superior ao do mercado.
A justificativa é de que são empresas especializadas no tipo de serviço que oferecem. Logo, tem uma expertise acima da média, o que permite fazer as atividades muito mais rápido e melhor.
Até aí, o modelo de negócio parece ser vantajoso para todos. A construtora vai, em teoria, contratar um serviço muito melhor e mais rápido por um preço menor. E ainda vai ficar livre da necessidade de captar trabalhadores no mercado, além, é claro, de evitar obrigações trabalhistas.
O problema começa logo, no entanto.
Afinal, quando a questão da competitividade entra em jogo, os empreiteiros alegam contar com profissionais altamente qualificados que fazem cair bastante os custos por homem/hora.
Só que, na prática, as empreiteiras vão buscar os trabalhadores no mesmo lugar que as próprias construtoras contratariam.
Para tentar conseguir mais produtividade, oferecem pagamentos de bônus que nada mais são do que pagamentos por fora, informais. Isso aumenta o risco trabalhista para todas as partes.
As construtoras, ávidas por reduzir custos, fecham os olhos para essas práticas questionáveis.
Como resultado, em pouco tempo os empreiteiros começam a ter problemas com fluxo de caixa, absenteísmo, elevação de custos, dentre outros.
É apenas um caminho um pouco mais longo para atingir o mesmo resultado. Ou seja, contribui para a escassez de mão de obra na construção.
Para resumir
Como tivemos a oportunidade de ver, a escassez de mão de obra na construção civil é um desafio enfrentado por mais de 70% das construtoras. As empresas do setor têm experimentado dificuldades em encontrar trabalhadores em quantidade suficiente e com a qualificação adequada. Isso compromete prazos de construção e eleva custos.
Os trabalhadores da construção enfrentam uma série de desafios, desde a carga de trabalho até os deslocamentos entre casa e canteiro. Somados aos salários que dificultam a busca por qualificação, isso prejudica a perspectiva de crescimento profissional, contribuindo para a rotatividade e a escassez de mão de obra qualificada.
Além disso, as oscilações econômicas do país impactam na projeção de obras pelas construtoras, contribuindo para a falta de continuidade no desenvolvimento profissional. Isso torna o setor menos atrativo para novos trabalhadores.
Os trabalhadores que optam por criar empreiteiras muitas vezes enfrentam problemas sérios, contribuindo para a insegurança e o aumento dos riscos trabalhistas. Práticas questionáveis, como pagamentos “por fora” para estimular a produtividade, acabam por agravar o problema da falta de mão de obra, criando um ciclo vicioso que dificulta ainda mais a resolução desse desafio.
Desafios enfrentados pelos trabalhadores da construção:
- Carga de trabalho extenuante.
- Deslocamentos desumanos entre casa e canteiro.
- Salários insuficientes para permitir uma qualificação adequada.
- Falta de perspectiva de crescimento profissional.
Práticas questionáveis na indústria da construção:
- Pagamentos “por fora” para estimular a produtividade.
- Empresas que fecham os olhos para questões éticas em busca de redução de custos.
- Incerteza econômica gerada por oscilações do mercado.
- Falta de continuidade no desenvolvimento profissional dos trabalhadores.