De esgotos gigantes a barreiras contra inundações, governos de todo o mundo estão investindo em mega projetos de proteção contra inundações. Lucy Barnard analisa alguns dos projetos de resiliência mais ambiciosos em construção no mundo e os empreiteiros que os estão construindo.
O ano de 2024 ainda nem chegou à metade, mas já está se configurando como um dos mais chuvosos registrados.
Em abril, Dubai viu a chuva de um ano inteiro cair em um único dia, transformando o aeroporto internacional em um lago e inundando o metrô. Em maio, o Brasil foi atingido por uma das piores enchentes de sua história, que matou 155 pessoas e forçou 540.000 a deixarem suas casas.
Para governos de todo o mundo, a probabilidade crescente de tempestades catastróficas, combinada com taxas crescentes de urbanização e a necessidade de substituir infraestrutura envelhecida, está impulsionando investimentos recordes em esgotos gigantes, barreiras contra inundações e projetos de resiliência.
O Construction Briefing examinou 10 dos mais significativos projetos de proteção contra inundações.
Projetos de proteção contra inundações
Nova York, EUA, barreiras contra inundações
Em resposta às severas inundações resultantes do Furacão Sandy em 2012, as autoridades da cidade de Nova York têm considerado formas de proteger a cidade.
No ano seguinte, o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA lançou o Rebuild by Design, uma competição de design de US$930 milhões para tornar os bairros da cidade danificados pelo furacão mais resilientes. Dez das 150 propostas foram selecionadas e sete receberam subsídios federais.
O maior subsídio, totalizando US$335 milhões, foi para a proposta “The Big U”, um plano ambicioso do arquiteto dinamarquês Bjarke Ingels Group e outros, que inclui uma barreira de 12 quilômetros ao redor de Lower Manhattan, incorporando espaços públicos e parques projetados para conter as águas das enchentes nas margens de Manhattan.
Um dos maiores segmentos do Big U era conhecido como o projeto East Side Coastal Resiliency. Segundo o plano original do Big U, isso incluía uma barreira de 2,4 metros ao longo da FDR Drive, da East 23rd Street até a Montgomery Street.
No entanto, em 2018, após uma revisão de “engenharia de valor” da cidade, o prefeito Bill de Blasio anunciou que, em vez de construir uma barreira, todo o East River Park de 23 hectares seria elevado. Em dezembro de 2019, o Conselho da Cidade de Nova York votou para aprovar um plano de US$1,45 bilhão para enterrar o parque sob 2,4 metros de novo solo e construir um parque redesenhado em um terreno mais alto para que o novo parque possa atuar como uma barreira contra inundações.
O trabalho de construção começou em 2021, após uma prolongada batalha legal com os moradores locais. O consórcio IPC Resiliency Partners, composto por CAC Industries, Posillico Inc e Lovino, está atualmente trabalhando na fase um do projeto, que deve ser concluída no final de 2024. A Perfetto Contracting está trabalhando na segunda fase. O projeto completo está programado para ser concluído em 2026.
Outros segmentos do Big U também estão em andamento. No ano passado, a Battery Park City Authority, o órgão que administra o Battery Park, concedeu um contrato de design e construção de US$631 milhões para parte de um “projeto de resiliência ao nível do mar” à Turner Construction e sua subsidiária EE Cruz para construir uma série de barreiras contra inundações ao redor da ponta sul de Manhattan. Separadamente, em junho, o Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA concedeu um contrato de US$132,7 milhões à Triumph Construction, com sede em Nova York, para construir uma série de lagoas de drenagem e infraestrutura de águas pluviais em Staten Island.
E outras medidas podem estar em andamento. Em 2022, após concluir um estudo de viabilidade, o Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA divulgou um plano selecionado que inclui 3,5 quilômetros de barreiras contra tempestades, 81,4 quilômetros de muros marítimos e outras medidas baseadas na linha costeira, 19 quilômetros de recursos de mitigação de inundações induzidas e 30,1 quilômetros de recursos de redução de riscos. O USACE estimou que o projeto teria um custo total de valor presente de US$76,2 bilhões e uma duração de construção estimada em 14 anos. Se os planos forem aprovados pelas autoridades de Nova York e Nova Jersey e sancionados pelo Congresso – e o financiamento for aprovado – a construção pode começar já em 2030.
Projeto de Túneis Estratégicos de Esgoto de Dubai, Dubai, EAU
Em fevereiro de 2024, o governo de Dubai convidou empreiteiros a licitar para um projeto de túnel de esgoto de AED80 bilhões (US$22 bilhões), que será desenvolvido como uma parceria público-privada.
O projeto inclui a construção de dois conjuntos de túneis profundos, terminando em duas estações de bombeamento localizadas em estações de tratamento de esgoto em Warsan e Jebel Ali. Um sistema convencional de esgoto e drenagem e estações de tratamento de esgoto serão construídos em Hatta. Também inclui sistemas de distribuição de água reciclada conectados às estações de tratamento de esgoto.
O projeto segue o Deep Tunnel Drainage de AED12,5 bilhões (US$3,4 bilhões) de 75 quilômetros de comprimento, com até 90 metros de profundidade, concluído em 2021 pela Parsons dos EUA, parte de um sistema projetado para coletar e armazenar águas pluviais para os próximos 100 anos.
MOSE, Veneza, Itália
O MOSE de Veneza é na verdade uma série de quatro barreiras compostas por fileiras de comportas móveis instaladas no fundo do mar nos acessos do Lido, Malamocco e Chioggia, que podem ser elevadas para selar temporariamente a Lagoa de Veneza do oceano durante tempestades.
O projeto foi inicialmente subcontratado pelo governo italiano em 1984 para o Consorzio Venezia Nuova, um consórcio de grandes empresas italianas. No entanto, a construção do megaprojeto só começou em 2003 e foi marcada por atrasos, aumento de custos e acusações de corrupção.
As barreiras foram elevadas com sucesso pela primeira vez em 2020 e esperava-se amplamente que fossem concluídas em 2021, mas documentos recentes publicados no jornal italiano Il Fatto Quotidiano indicam que intervenções viabilizadas por novos financiamentos estendem a data de conclusão até dezembro de 2025. O custo total do projeto foi estimado em 6 bilhões de euros (cerca de 6,5 bilhões de dólares).
Costa Oeste do Lago Pontchartrain, Louisiana, EUA
O projeto, que tem um custo estimado de 760 milhões de dólares, foi projetado para fornecer proteção contra surtos de tempestade para 60.000 residentes nas paróquias de St. Charles, St. James e St. John the Baptist. Contratos para vários pacotes de construção no projeto foram concedidos a empresas da Louisiana, incluindo: Onshore Material; Mandeville Construction, Dynamic Group, EvCo Development e Lemoine-Frazier. A construção começou em dezembro de 2022 e espera-se que seja concluída em 2027.
Túnel do Rio Potomac, Washington DC, EUA
Uma joint venture entre a CBNA, uma subsidiária nos EUA da empreiteira francesa Bouygues Construction, e a Halamar International, com apoio dos engenheiros da COWI e Hatch, começou os trabalhos em fevereiro na construção de um sistema de esgoto e drenagem de águas pluviais de US$ 819 milhões projetado para reduzir o número de transbordamentos de esgoto no Rio Potomac em Washington DC.
O túnel principal, com 8,9 km de extensão (5,5 milhas), passará sob o Rio Potomac em Washington DC e se conectará ao túnel existente do Rio Anacostia, armazenando águas pluviais e efluentes e conduzindo-os até a Advanced Wastewater Treatment Plant da DC Water em Blue Plains. O túnel, que terá uma profundidade de 30 metros (100 pés) e um diâmetro interno de 5,5 metros (18 pés), atravessará condições geográficas variáveis (argila, aluvião, rocha dura), passando próximo aos monumentos icônicos de Washington DC. Será necessário o uso de duas tuneladoras personalizadas especificamente para essas condições do solo. A conclusão das obras no projeto está prevista para 2030.
O Túnel Tideway do Rio Tâmisa, Londres, Reino Unido
Concluído em março após oito anos de construção, o Túnel Tideway do Rio Tâmisa, com um custo de £5 bilhões (US$6,4 bilhões), é o maior projeto de infraestrutura já realizado pela indústria de água britânica.
O túnel, com 26 quilômetros de extensão e 7,2 metros de largura, vai de Acton, no oeste de Londres, até Abbey Mills, no leste de Londres, desviando 34 dos despejos de esgoto mais poluentes que têm sido lançados no rio Tâmisa e armazenando-os até que possam ser processados. Espera-se que o primeiro esgoto flua para o novo túnel neste verão e que ele esteja totalmente operacional até 2025. Entre as empresas contratadas no projeto estão: BAM Nuttall, Morgan Sindall, Balfour Beatty, Ferrovial Agroman, Laing O’Rourke, Costain, Vinci e Bachy Soletanche.
Projeto Clearwater, Los Angeles
Após uma avaliação de vários anos do sistema principal de esgoto dos Distritos de Saneamento de Los Angeles, que atende a mais de 5 milhões de pessoas, os Distritos de Saneamento concordaram em construir um túnel de 7 milhas de extensão e 18 pés de diâmetro para transportar água tratada da Joint Water Pollution Control Plant em Carson até as saídas existentes para o oceano na Royal Palms Beach em San Pedro. O projeto é chamado de Clearwater. Em 2019, os distritos concederam um contrato de construção de US$ 630 milhões para a Dragados USA, a subsidiária nos EUA da empreiteira espanhola Dragados. O projeto está programado para ser concluído em 2026.
Túnel de Alívio de Drenagem Mill Creek, Dallas, EUA
O Túnel de Alívio de Drenagem Mill Creek, previsto para ser concluído em 2026, é um túnel subterrâneo de cinco milhas de extensão que se estende desde o distrito State Thomas em Uptown Dallas, passando pelo Mill Creek e Peaks Branch. O túnel, com diâmetro de 30 pés e situado entre 70 a 100 pés abaixo do solo, foi projetado para proteger cerca de 6.000 propriedades residenciais e comerciais na área leste de Dallas contra inundações pelos próximos cem anos.
O projeto está sendo construído pela Southland Mole, uma joint venture de duas subsidiárias da Southland Holding com base no Texas, que recebeu o contrato de construção de US$ 206,7 milhões em 2018. Uma tuneladora Robbins Main Beam foi utilizada para perfurar o calcário de Austin entre a primavera de 2020 e o verão de 2022, e está sendo adicionado um revestimento de concreto até 2025.
Túneis Cloudburst, Copenhague, Dinamarca
Após uma grande tempestade em Copenhague, em 2011, a municipalidade de Copenhague identificou a necessidade de uma nova rede de esgoto e drenagem de tempestades que pudesse direcionar as águas pluviais das chuvas torrenciais da cidade para o Estreito de Øresund. Como resultado, a municipalidade desenvolveu um Plano de Gestão de chuvas fortes para construir dois novos túneis para drenar água de tempestades, que descreve como “autoestradas para água”.
O túnel Kalvebod Brygge se estende por 1.360 metros, enquanto o túnel Valby se estende por 1.500 metros. Os túneis têm até 3 metros de diâmetro e estão localizados entre 12 e 20 metros abaixo do nível do mar. A empresa de engenharia dinamarquesa NIRAS começou a trabalhar no projeto como consultora em 2017.
A escavação do túnel Kalvebod Brygge, utilizando uma TBM (“Tunnel Boring Machine”, que em português pode ser traduzido como “máquina de perfuração de túneis”), foi concluída no final de 2023. Estações de bombeamento estão previstas para entrar em operação em 2026. No final de maio deste ano, uma joint venture entre a empresa dinamarquesa MT Højgaard Danmark e a empresa francesa Eiffage ganhou o contrato para construir o túnel de Valby, com 2.380 metros de comprimento, sob um contrato no valor de DKK 490 milhões (US$ 71,3 milhões).
Reservatório Regulador Multibacia Subterrâneo da Ring Road no. 7, Tóquio, Japão
Tóquio já possui a maior infraestrutura subterrânea de água do mundo, composta por 28 reservatórios reguladores subterrâneos em doze rios, com um volume total de armazenamento de 2,63 milhões de metros cúbicos.
No entanto, após aumentos dramáticos na intensidade e frequência de tempestades, a Junta de Construção do Governo Metropolitano de Tóquio destinou um adicional de ¥6,6 trilhões (US$42 milhões) para reforçar as defesas contra enchentes na área metropolitana. Em 2022, iniciou-se a construção de um reservatório em forma de túnel com 5,4 km de comprimento e 13,2 metros de diâmetro, com capacidade de 1,4 milhão de metros cúbicos, conectando os reservatórios subterrâneos existentes nos rios Kanda e Shirako. A conclusão da construção está prevista para 2026.
Artigo de autoria de Lucy Barnard e traduzido para português por Grua Insights. Originalmente publicado por Construction Briefing. Link para o artigo original.
